Egressa do mês: Elem Reis

Elem Reis foi petiana entre 1998 a 2000. Hoje mora na Escócia, onde atua como voluntária em uma escola ajudando crianças estrangeiras com dificuldades no aprendizado do inglês e se prepara para começar um curso de Arte Clássica e Arqueologia na Universidade de Edimburgo. Nesta entrevista, ela fala de suas experiências como petiana e de sua vida na Europa.

Quais foram seus orientadores: Prof. Laura de Faria Pinto (tutora do PET), Prof. Fernando Fiorese, Chico Pimenta e Potiguara Mendes da Silveira.
Como era o PET na sua época? O PET na minha época era um programa muito mais “espartano” do que penso ser hoje. Éramos um grupo de bolsistas, uma tutora, uma sala pequena, sem telefone, sem internet, por muitos meses sem o suporte financeiro da Capes, onde tudo era feito na base da força de vontade e entusiasmo. Pegamos o PET numa época bem difícil, de crise mesmo. Todos os meses corriam notícias de que o governo estava cancelando o financiamento e vivíamos na incerteza, sem saber por quanto tempo continuaríamos a “ser” o PET. Apesar das dificuldades, o PET era um grupo fenomenal.  Os bolsistas eram divididos em módulos, pelo ano de entrada, e os mais avançados ajudavam os que estavam começando. Fazíamos três reuniões semanais para discussão dos textos indicados pela tutora e dedicávamos um tempo adicional para as leituras em casa. Para mim, foram sessões de “brainstorming” inesquecíveis. Um projeto muito interessante que desenvolvemos foi a análise da Revista Raça – publicação voltada  para o público negro. Fizemos pesquisa de campo, entrevistamos várias pessoas e os textos de referência eram bem diferentes daquilo que estávamos lendo na faculdade. Entre os autores que me marcaram posso citar Baudrillard, Nietzsche, Umberto Eco, Barthes, Morin, Virilio e  Foucault.

O que você pesquisava? No primeiro ano, me dediquei à pesquisa de propaganda política nos meios impressos. Nos anos posteriores, comecei a me interessar mais por Estética e Comunicação de Massa e estudos sobre fotografia, o que abriu caminho para minha monografia final, sobre o trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado.

Como você foi para a Europa? Eu vim para a Europa pela primeira vez para estudar francês em Paris. Depois disso, coloquei uma mochila nas costas e não consegui mais parar. Na Inglaterra, conheci a pessoa que hoje é meu marido e estou por aqui até hoje! Vivo na Europa há 7 anos. Durante esse período, morei na França, Espanha, Inglaterra e mais recentemente na Escócia. Considero essa experiência uma das mais importantes da minha vida. Passar um tempo fora do seu país, estudar a história de outros povos, conhecer e conviver com pessoas de outras culturas cria a possibilidade de refletir sobre as dinâmicas globais de um ponto de vista diferente, que eu dificilmente seria capaz de obter se tivesse vivido somente no Brasil.

Conte uma história que você viveu na Europa: Durante meu último ano no PET, estudei os processos migratórios de diversos povos, registrados pelas lentes de Sebastião Salgado. Hoje, sinto que tenho o privilégio de ser, eu também, uma testemunha da história do meu tempo, pois tenho acompanhado algumas das principais ondas migratórias contemporâneas. Árabes e africanos na França; latino-americanos na Espanha e Portugal; indianos, paquistaneses e chineses no Reino Unido; nômades na Itália; a geração pós-comunismo nos países do Leste Europeu; o movimento de povos que a abertura de fronteiras entre os países da União Européia. Tudo isso é fascinante para mim e ver de perto esses processos é uma das surpresas mais positivas dessa experiência.
Quais foram suas dificuldades no Exterior? O clima, a saudade da família e dos amigos, a barreira inicial da língua. Mas acho que o mais difícil é “sair da casca”, como dizem os britânicos. É deixar de lado toda a sua carga de preconceitos; é colocar-se no lugar “do outro”, das pessoas que vêm de culturas, religiões e hábitos diferentes dos seus. É criticar menos, observar e aprender mais.

Que diferença o PET fez na sua vida: O PET fez uma diferença enorme na minha vida. As leituras e discussões de textos foram exercícios intelectuais que me marcaram. Ler, refletir, questionar, formar uma opinião, contrapor pontos de vista. A experiência em pesquisa também me familiarizou com as normas da ABNT, com técnicas de estruturação da informação e redação. Acho que o PET ajudou a descobrir uma vocação que eu não conhecia, ajudou a definir que tipo de carreira gostaria de ter. Quando tive que optar entre um lugar no mercado de trabalho ou uma bolsa de estudos, escolhi os estudos sem arrependimentos, e com certeza o PET teve seu peso nessa decisão.

Deixe uma mensagem: Recentemente, tenho notado que a mídia internacional vem mostrando o Brasil como um país em rápida ascensão entre as nações em desenvolvimento. Acho que se o Brasil quer mesmo conquistar esse espaço, tem de investir em educação de forma séria. Iniciativas como o PET são um exemplo a ser seguido. Parabéns aos bolsistas, tutores e a todos que lutaram para que o programa nunca acabasse!

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